domingo, 17 de fevereiro de 2008

O passar do tempo

E foi num piscar de olhos.Antes de piscar ele era criança,a rua tinha apenas casas baixas,era coberta por paralelepípedo e quando chovia se enchia de lama.Nas ruas proximas também não era diferente,casas baixas,barro,mas apesar do que possa parecer ruim todos ali se conheciam,as crianças brincavam sem medo de assalto ou carros,que quando passavam, davam tempo suficiente para que pudessem sair de suas frentes.
A unica coisa que realmente movimentava aquele lugar,e ainda assim apenas nos finais de semana ou quando havia um evento especial,era uma casa que ficava na esquina da rua desse garoto,aquela famigerada luz vermelha sempre atraiu pessoas não apenas de outros bairros, como também de outras cidades,e ele e seus amigos demoraram um certo tempo para entender o motivo.
Quando piscou os olhos pela primeira vez ele começou a entender o que se passava naquele recinto e realmente ficou curioso para saber como era lá dentro.Quando chegou esse dia ele descobriu duas coisas das quais jamais iria se separar:whisky e mulheres.
Mas após esse primeiro piscar de olhos tudo passou mais rapido,namoradas vieram e foram,seus amigos começaram a sair de casa e tomar outros rumos na vida,a rua que outrora era pavimentada por paralelepípedos fora asfaltada e prédios começaram a surgir,e ele se viu obrigado também a trilhar novos rumos.Saiu,não apenas da tranquilidade da sua rua,mas também de sua cidade,foi incentivado por seus pais a ir para a faculdade,para conseguir um bom emprego no futuro e ter uma vida melhor do que seus pais tiveram e proporcionar a seus filhos uma vida melhor do que ele teve enquanto criança.
Mais uma vez piscou os olhos,e quando prestou atenção novamente,estava formado,com um bom emprego,havia conquistado aquilo que seus pais haviam-lhe pedido quando o mandaram pra outra cidade.Porém ainda sentia falta daquela tranquilidade,de soltar pipa, jogar bolinha de gude na calçada e jogar bola no meio da rua.Mas o tempo foi passando e ele apenas deixou que a saudade tomasse conta daquelas lembranças,ficou por muitos anos sem voltar a sua terra natal,e sempre com a velha desculpa da falta de tempo.
Um dia a saudade daquele lugar lhe tomou por inteiro e ele se viu obrigado a voltar a sua cidade,ao seu bairro,voltar àquele local aonde vivera os melhores anos de sua vida.Ao chegar pensou que havia errado o caminho,chegado em outro lugar.Após piscar os olhos novamente viu que estava no lugar certo,mas o tempo fora cruel e os arranha-céus haviam tomado conta daquela rua aonde ele havia crescido.Não conseguia entender aonde aquilo poderia ser progresso,no lugar das belas casinhas com jardins e das arvores que invadiam as calçadas só conseguia ver concreto,tudo era cinza e para não se dizer que tudo era diferente,ainda havia uma certa casa de esquina,tudo bem que agora a pintura era outra e não havia mais a luz vermelha na porta,mas ainda haviam muitos carros ali,inclusive de outras cidades.
Ele fez questão de entrar,mas o local havia mudado por completo,não dava pra saber se era uma boate ou um hotel,mesmo assim ele quis entrar para ver como havia ficado, e viu algo que não lhe agradava,na sua época whisky era tomado com gelo,mas o modismo fez com que aparecesse um tal energético para macular a sagrada bebida escocesa,e como se não fosse suficiente as moças que antigamente usavam vestidos e adereços na cabeça,andavam praticamente nuas pelo salão, o que(por mais que ele gostasse das moças semi-nuas) fazia com que se perdesse um pouco da magia,mesmo assim viu-se obrigado a levar a loira que se sentou ao seu lado para um quarto(certas coisas não haviam mudado).
Ao sair do estabelecimento,continuou seu passeio pelo lugar e não viu nada que lhe agradasse, sentindo-se forçado a voltar para sua casa frustrado com o fato de não ter voltado ao lugar aonde cresceu antes e nao ter conseguido ver por uma ultima vez que fosse a sua antiga casa,as árvores e as crianças brincando nas ruas, e não trancafiadas dentro daqueles condomínios-prisões que foram criados.